Membranas biológicas

Concentração micelar crítica (CMC)

      A concentração micelar crítica refere-se ao teor de um surfactante mínimo acima do qual esse pode reorganizar-se em micelas ou lipossomos. É bastante utilizado na caracterização de tais compostos, como biosurfactantes na indústria, e pode ser medido por diversas técnicas, incluindo tensão superficial, fluorescência de polarização, turbidimetria e absorção molecular (fotometria).
      De modo geral a determinação de cmc é obtida pelo valor da concentração do surfactante no ponto de cruzamento de duas retas obtidas por ajuste linear dos dados em baixo e alto teor do analito, como segue:

\[ y_1 = y_2 \\ a_1+b_1*x = a_2+b_2*x\\ a_1-a_2 = b_2*x-b_1*x\\ a_1-a_2 = x(b_2-b_1)\\ x = \frac{a_1-a_2}{b2-b1} \tag{1}\]

      O ponto de intersecção pode ser obtido manualmente, pelo comando locator já referido, ou de forma automática. Nesse caso, o exemplo do R que ilustra esse cálculo baseia-se em resultados de espectrofometria obtidos para um corante, o amarelo ácido 29 [@duff1972spectrophotometric].
# Determinação de concentração micelar crítica (CMC)

conc <- c(1e-5, 0.00179, 0.00357, 0.00527, 0.00881, 0.0106, 0.0141, 0.0159) 
# teor do corante (mol/L)
A385 <- c(0.003, 0.421, 0.712, 0.905, 1.09, 1.17, 1.41, 1.47) 
# absorbância em 385 nm

# Gráfico
plot(A385 ~ conc, xlab = "[amarelo ácido 29]", ylab = "Abs 385")

# Ajuste linear para 2 conjuntos de dados

# 1o. conjunto
linCmc1 <- lm(A385 ~ conc, subset = (conc < 0.007 & conc > 0)) 
# 1o. ajuste linear com limites
abline(linCmc1, col = "blue", lty = "dotted") # linha de regressão

# 2o. conjunto:
linCmc2 <- lm(A385 ~ conc, subset = (conc < 0.02 & conc > 0.007)) 
# 2o. ajuste linear com limites
abline(linCmc2, col = "blue", lty = "dotted") # linha de regressão

# Cálculo de CMC por intersecção das automática das duas retas:
cmc_auto <- abs((coef(linCmc2)[1] - coef(linCmc1)[1]) / 
                  (coef(linCmc1)[2] - coef(linCmc2)[2]))
as.numeric(cmc_auto) # fornece o cmc em mol/L
[1] 0.004642773
      O valor encontrado pelos autores foi de 0,004 mol/L.

Transporte em membranas e Teoria Quimiosmótica

      O equilíbrio de transporte de solutos por membranas envolve um formalismo que abrange o potencial eletroquímico dos solutos envolvidos, suas concentrações (ou atividade), cargas, potenciais elétricos e volumes parciais em unidade molal. À despeito dessa complexidade, contudo, podemos ilustrar o transporte de íons H\(^{+}\) de modo simplificado, seguindo-se a equação abaixo:

\[ \Delta G_{transp}=2.303(RT*log\frac{H^+_{in}}{H^+_{out}}) + z * F * \Delta \phi \]

Onde F representa a constante de Faraday, 96485 J\(^{-1}\)\(V^{-1}\)\(mol^{-1}\) (também representado como 1 mol de elétrons), e z a carga do íon equanto que \(\Delta\)\(\phi\) representa a variação de potencial elétrico, e \(\Delta\)pH a variação do valor de pH, ambos obtidos por medições entre o lado interno (matriz mitocondrial) e externo (espaço intermembranas). H\(^{+}\)\(_{in}\) e H\(^{+}\)\(_{out}\) representam o teor de prótons do lado interno e externo da membrana, respectivamente.

      Agora, considerando a carga unitária de H\(^{+}\) e a definição para pH (-log H\(^{+}\)),

\[ \Delta G_{transp}=\Delta \phi * F-2.303RT*\Delta pH \]

      Tangente ao transporte de solutos e íons por membranas celulares, é possível prever-se, por exemplo, o teor de ATP formado durante a fosforilação oxidativa que envolve o retorno de íons H\(^{+}\) do espaço intermembranas à matriz mitocondrial. Ilustrando-se, considerando um valor de \(\Delta\)\(\phi\) de 70 mV e um \(\Delta\)pH de 1,4 para as medidas entre matriz e espaço intermembranas mitocondriais, prevê-se a obtenção de ATP pelas relações que seguem, considerando a energia de 31 kJ/mol de ATP :
# Teor previsto de ATP durante fosforilação oxidativa

R <- 8.341 # J/mol
T <- 298 # K
F <- 96485 # constante de Faraday
Dphi <- 70e-3 # variação de potencial elétrico in/out membranas
DpH <- -1.4 # variação de pH in/out membranas
DG_transp <- F * Dphi - 2.303 * R * T * DpH # equação de transporte
DG_transp_4 <- 4 * DG_transp # 4 mol de H+

# Considerando cada mol de ATP para 31 kJ/mol...
DG_transp_4 / 31e3
[1] 1.905559
      Percebe-se, portanto, a produção de 2 mols de ATP nas condições explicitadas.

Proteínas de transporte em membranas

      Enquanto prótons como H\(^{+}\) são transportados em função de seu gradiente de concentração entre o lado interno e externo de membranas, outros compostos e solutos dependem de uma proteína transportadora, como glicose e ácido cítrico. Nesse caso, o transporte não é passivo, mas de difusão facilitada, e seu comportamento cinético pela membrana obedece o formalismo de Michaelis-Menten como segue.

\[ v_{transp}=\frac{V_{max}*S_{out}}{K_{transp}+S_{out}} \]

      Onde, analogamente, V\(_{max}\) representa a velocidade máxima (ou limite) de transporte do substrato, S\(_{out}\) o teor do substrato transportado, e K\(_{transp}\) a constante de dissociação do complexo proteína-substrato (ou concentração do substrato a meia saturação do transportador).
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