46  Parâmetros Energéticos em Nutrição Animal

46.1 Introdução

      Em produção animal, quando se deseja avaliar o aproveitamento energético de volumosos ou concentrados, forragens, gramíneas ou silagens pelos animais, as relações de entalpia e energia livre se tornam de pouca praticidade frente a enorme variabilidade de processos digestivos, interação entre nutrientes, absorção diferencial entre animais de um mesmo rebanho, plausibilidade de fatores anti-nutricionais, e inexistência de informação completa sobre os constituintes da dieta.

      Dessa forma, há que se buscar outras relações matemáticas que possam aproximar e aferir o potencial nutricional de determinada dieta direcionada a determinado rebanho.

      Das relações mais simples de produtividade pode ser mencionada a conversão alimentar, algebricamente definida como a razão entre a quantidade de alimento ingerida sobre o ganho de peso animal (ou peso de ovos, ou outro parâmetro desejado). Dessa forma:

      O aproveitamento líquido do alimento, por sua vez, pode ser definido como a relação entre o que se ingere e o que se elimina (fezes, urina), conforme abaixo:

      Outras relações matemáticas podem advir dessas, mas com a limitação inerente do teor energético envolvido nos alimentos, bem como de sua diferença entre os grandes grupos alimentares (carboidratos, proteínas e moléculas aminadas, e lipídios). Para tanto, há de se mensurar a energia total contida nos mais diversos tipos alimentares, bem como nas excretas animais.

      Para se conseguir isto, é necessário medir a energia liberada pelos compostos mencionados através de uma bomba calorimétrica (calorimetria de combustão). Através dessa técnica, pode-se conseguir diversas relações energéticas, tal como a energia metabólica aparente (EM), a qual é definida por:

| Onde:

EB = Energia Bruta (medida por bomba calorimétrica e referências tabuladas)

EBEXCRETADA = EB não digerível, associada à digerível mas não assimilada e às perdas metabólicas (bile, enzimas pancreáticas, descamação celular, etc)

      Outra forma de representar a energia metabólica aparente é dada abaixo:

      Onde

EDIGERÍVEL = EBALIMENTO - EBFEZES, ou ainda,

(quantidade ingerida de MS x EB ALIMENTO) - (quantidade MS fezes x EBFEZES)

      Da ideia de coeficiente de digestibilidade aparente, mencionado acima, pode-se também extrair o coeficiente de digestibilidade de energia bruta, o qual é definido por:

      Outras relações energéticas são dadas abaixo:

, com IC = incremento de calor que, por sua vez, é definido pela somatória do metabolismo basal e a termogênese dietética, ou, matematicamente,

IC = EM – EL, com EL = energia líquida, definida por

, com k = eficiência parcial utilizada de EM

      Todas essas relações matemáticas mencionadas podem ser utilizadas para o cômputo de energias fracionárias na alimentação animal. Adicionalmente, pode-se também avaliar a contribuição de cada grande grupo alimentar, através do isolamento e determinação de carboidratos, proteínas e lipídeos.

      Neste caso, são utilizados protocolos experimentais específicos para cada determinação, estabelecidos desde 1854 por Weende. Em síntese, e para qualquer rebanho desejado, determina-se alguns constituintes alimentares abaixo abreviados: MS – matéria seca (forragem) EB – energia bruta PB – proteína bruta EE – extrato etéreo (material lipídico) ENND – extrato não-nitrogenado digerível CARB – carboidratos totais FB – fibra bruta (celulose, hemicelulose, lignina, silício) CL – celulose HC – hemicelulose LIG – lignina

      O fracionamento da FB em seus constituintes foi aprimorado a partir de 1965 pelo trabalho desenvolvido por Van Soest, em que uma degradabilidade diferencial entre celulose, hemicelulose, lignina e silício ,é conseguida através do emprego de detergentes básicos e ácidos. As Figuras abaixo exemplificam processos comuns para as determinações.

Esquema de fracionamento dos constituintes da fibra bruta. FDN, fibra de detergente neutro, em cujo filtrado seco coexistem lignina, sílica, celulose e hemicelulose. FDA, fibra de detergente ácido, em cujo filtrado seco permanecem, apenas, lignina e sílica.

      Após a série de determinações experimentais acima, é possível conceber uma relação matemática final para as contribuições energéticas fracionárias do alimento dado para o animal. Essa relação envolve o conhecimento do extrato não-protéico digerível e de outras frações, dadas como segue. O extrato não-protéico digerível pode ser definido por:

, em %, ou pode também ser validado por

, em kg

      Assim, o valor energético dos alimentos pela sua digestibilidade fracional pode ser normalmente obtido através da seguinte relação:

, com

NDT = nutrientes digeríveis totais PB = proteína bruta digerível FB = fibra bruta digerível ENND = extrato não-nitrogenado di

      A equação acima nada mais representa do que a soma dos contribuintes energéticos fracionários de proteínas, carboidratos e lipídeos.

      Nesse sentido, como a contribuição energética dos grandes grupos alimentares é distinta, surgem os valores numéricos na equação afim de padronizar os constituintes em relação a energia de carboidratos (1,25 é igual a 5/4, ou 5 kcal/mol em proteína / 4 kcal/mol em carboidratos; 2,25 é igual a 9/4, com raciocínio similar aplicado para lipídios).

Determinação diferencial de constituintes alimentares. O fator de correção para a proteína determinada pelo método de Kjedahl, 6,25, decorre do fato de que existem 16 gramas de proteína a cada 100 g de nitrogênio quantificado, tendo por referência a albumina.

      Com base na composição bromatológica de diversos alimentos, é possível desenvolver equações de predição para a energia metabolizável, tendo como parâmetros introduzidos, apenas combinações de MS, PB, EE, ENN e cinzas. A Tabela abaixo apresenta algumas destas equações, baseadas nos trabalhos do subcomitê da Federação Européia da Associação Mundial de Ciência Agropecuária de 1989.

Equações de predição do valor energético para alguns ingredientes e subprodutos utilizados em rações.